terça-feira, 6 de agosto de 2013

Relacionamento afetivo e sexualidade na juvenude

Por Marcos Eduardo F. Marinho

Escolher por quais caminhos seguir e que decisões tomar é difícil em qualquer fase da vida. Durante a juventude, tomar decisões e fazer escolhas são grandes tormentos, que geram dúvidas e conflitos. Quando o assunto é a sexualidade, as dúvidas parecem ser ainda maiores. O comportamento do jovem mudou nos últimos anos. A sexualidade, muito explorada pela mídia, é banalizada, assim como os relacionamentos afetivos.

A aparente liberdade – a sensação de que tudo é permitido – gera conflitos, principalmente entre os que estão vivendo um momento de transição entre a adolescência e a vida adulta. Muitas vezes se estabelece uma forte tensão entre seguir os valores familiares ou assumir o comportamento adotado pelo grupo.

         Quando o caminho escolhido é o de se inserirem a qualquer custo em um grupo, os jovens adotam comportamentos rebeldes para serem aceitos – passam a consumir de forma abusiva bebidas alcoólicas e drogas e assumem comportamentos sexuais de risco. Esses comportamentos trazem resultados muitas vezes não imaginados, com consequências duradouras, como os casos de gravidez não planejada ou doenças sexualmente transmissíveis.

Os jovens estão iniciando a vida sexual mais cedo e a sexualidade tem sido discutida de forma mais “aberta” entre as pessoas e nos meios de comunicação. Não há ausência de informação, mas uma grande dificuldade de reflexão sobre o tema. Este aparente ambiente de liberalidade nas formas de viver a sexualidade ainda esconde mecanismos de repressão velada e preconceituosa sobre o assunto.

        Isso fica evidente nos debates sobre as relações homossexuais, nos ambientes domésticos e familiares e em instituições como a escola e as igrejas. O mesmo pode ser refletido sobre a exploração da imagem feminina, ainda vista como objeto de consumo ou mesmo pressões de grupo sobre a questão da virgindade feminina, hoje tida como um problema para muitas jovens, levando-as a iniciar a vida sexual de forma precipitada.

                Quando observamos os relacionamentos amorosos, o cenário não é menos complexo. Desde a década de 1980 utiliza-se a expressão “ficar”, uma nova forma de se relacionar em que as pessoas mantêm contatos sexuais e/ou afetivos durante um curto tempo, sem que isso signifique assumir um compromisso afetivo duradouro. Aparentemente, esta forma de relacionamento sugere maior liberdade, mas está repleta de regras que variam conforme o grupo social a que pertencem e ao momento histórico.

               De todo modo, o “ficar” pode ser visto como maior possibilidade de experimentação, de conhecimento sobre si e sobre o outro – o funcionamento do próprio corpo, sensações prazerosas e de toque com o outro – sem a obrigação do compromisso, do vínculo afetivo. O seu reverso é o “ficar com” banalizar as relações, levando os jovens a ver o outro como coisa ou objeto – o que, não raro, leva a frustrações e ressentimentos.

 E, ao banalizar as trocas afetivas, os jovens reproduzem a dinâmica presente no consumo, ou seja, a ordem é manter a relação enquanto ela trouxer satisfação e substituí-la por outra, se esta prometer ainda mais satisfação. Relações amorosas desse tipo, com a possibilidade de término a qualquer momento, geram ansiedade permanente.

Nota-se, a partir dos anos 1990,  a tentativa de restauração de modelos tradicionais e familiares, a adoção de alianças e anéis de compromisso e casamentos religiosos em alguns grupos juvenis; e, em grupos minoritários de ascendência religiosa, a valorização da virgindade e da castidade antes do casamento como modelos de pureza de sentimentos e aceitação da tradição. Situam-se como reação às mudanças e à fragilidade das relações e trocas afetivas e visam resgatar aspectos perdidos dos relacionamentos amorosos das gerações passadas.

De todo modo, a família, a escola e os educadores podem contribuir na reflexão sobre essas questões promovendo o debate sobre elas, dando voz e mediando as reflexões dos jovens, de forma respeitosa, oferecendo elementos para que os jovens possam, independentemente do formato, construir relações substantivas, ricas em significado, em realização amorosa e sexual, com responsabilidade sobre si e o outro.

A psicoterapia também se coloca como importante elemento de reflexão do jovem e de auxilio na constituição de sua identidade adulta nessa etapa da vida, possibilitando um processo de autoconhecimento, de escuta analítica e de ressignificação das suas relações.

Fonte: www.psicomarcosmarinho.wordpress.com - acessado em 05082013

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