sexta-feira, 21 de junho de 2013

O fim do poder - livro de Moisés Naim

Ex-ministro da Venezuela, ex-diretor do Banco Mundial e ex-editor da revista “Foreign Policy“, Moisés Naím é membro associado do “think tank” Carnegie e colunista dos jornais Folha, “El País” e “La Reppublica“, entre vários outros. Em seu livro recém-lançado “The End of Power” [O Fim do Poder], ele não identifica nem o fim do Estado, nem o fim das grandes empresas ou igrejas. Cada uma à sua maneira, as elites continuam as mesmas, até com maior concentração de riqueza, como nos Estados Unidos. Mas a sua capacidade de exercer poder político está sendo questionada.
“É mais fácil obter e perder poder e é mais difícil usá-lo“, diz Naím. “O escudo que protege os poderosos agora é menos eficiente. Isso é verdadeiro nos negócios, nas questões militares, na política, na religião, no sindicalismo, na mídia. E isso é devido a muitos fatores, uma longa lista de fatores, que eu procuro agrupar em três revoluções.”
São 3 M's, em português ou inglês:
  1. mais (more),
  2. mobilidade (mobility) e
  3. mentalidade (mentality).
primeira categoria “tenta condensar o fato de que vivemos em um mundo de abundância, em que há mais de tudo: há mais pessoas no mundo, as pessoas são mais ricas do que nunca, há mais cidades, mais produtos, mais remédios e mais armas”. Para resumir como “o mais tem consequências para os poderosos”, cita Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA: “Hoje, é mais fácil matar centenas de milhões de pessoas do que governar centenas de milhões de pessoas“.A revolução da mobilidade reflete o fato de que esse “mais” também se movimenta mais. “As pessoas, seus produtos e seu dinheiro, sua ideologia e suas pandemias, tudo se movimenta mais. E o poder requer um público cativo, requer fronteiras muito definidas, dentro das quais você o exerce. A mobilidade dificulta isso.”A terceira categoria, mentalidade, se refere às “profundas mudanças em expectativas, aspirações, valores”. Para Naím, hoje há menos tolerância para situações que antes eram aceitas sem questionamento. “Um dos exemplos mais ilustrativos disso é a explosão nas taxas de divórcio na Índia: as mulheres estão abandonando os seus casamentos arranjados. E parece até que o brasileiro cansou-se da corrupção e dos custos elevados da vida”
Neste livro, o autor menciona a ascensão de empresas brasileiras como exemplos da reviravolta na estrutura de poder corporativo global. Na indústria aeroespacial, “os `mega-players’ nunca imaginaram que uma empresa baseada no Brasil, a Embraer, poderia ser uma das líderes no mercado de tamanho médio“.No petróleo, “o mundo era dominado pelas Sete Irmãs, mas não mais: agora você tem empresas como a Petrobras, que estão entre as líderes globais“. Da mesma maneira, “quem diria que uma das gigantes no mundo da cerveja, a Anheuser-Busch, seria dominada por uma empresa com raízes brasileiras? - AMBEV”.Naím cita outras empresas gigantes emergentes do Capitalismo de Estado, como a indiana Mittal, maior siderúrgica do mundo, mas evita a expressão BRIC, que toma Brasil, Rússia, Índia e China como protagonistas de uma nova ordem global. “A única coisa que os BRICs têm em comum são o tamanho e o crescimento. Não mostraram capacidade de trabalhar juntos, de maneira consequente.”Ele também evita sobrevalorizar o impacto da internet para o fim ou o declínio do poder. “São ferramentas, são tecnologias que precisam de usuários. O que aconteceu na Primavera Árabe começou na Tunísia, e não começou por causa da internet. Twitter e Facebook foram amplificadores, mas não foram a causa para a perda do poder.”Com ampla experiência em redação, Naím observa que o “New York Times” ou a rede CBS, por um lado, continuam empresas muito poderosas, mas estão mais constrangidas do que no passado. Por outro lado, “a importância do jornalismo é agora maior do que nunca“, com novos atores, em especial o “jornalismo-cidadão”. Via Web 3.0.Leia o artigo do próprio autor intitulado também O Fim do Poder (FSP, 03/08/12): “O que têm em comum o aquecimento global, a crise na zona do euro e os massacres na Síria? O fato de ninguém ter o poder de detê-los. Cada uma dessas situações vem se deteriorando em plena vista do mundo. As três implicam graves perigos e o sofrimento de milhões de pessoas. Há ideias do que fazer em relação às três. Mas não acontece nada.Há reuniões de ministros, cúpulas de chefes de Estado, exortações de líderes sociais, religiosos e acadêmicos. Nada. Diariamente, somos informados de que cada uma dessas crises segue adiante na corrida desembestada rumo ao despenhadeiro. E…? Nada. Não ocorre nada.É como assistir a um filme em câmera lenta em que um ônibus cheio de passageiros ruma ao precipício, enquanto o motorista não pisa no freio nem muda de direção. O problema é que todos estamos nesse ônibus. No mundo atual, o que acontece em outro lugar, por distante que pareça ser, acaba nos afetando.
Mas essa metáfora supõe que o freio e o volante funcionem e que exista um motorista com o poder de frear ou mudar de rumo. Porém não é o que ocorre.No caso dessas três crises – e de muitas outras -, não há um motorista único, e sim vários. E cada vez há mais motoristas, ou candidatos a motoristas, que, embora não tenham o poder de decidir a direção e a velocidade do ônibus, têm, sim, o poder de impedir que sejam tomadas decisões das quais discordam.Rússia e China não podem solucionar a crise na Síria. Mas podem vetar as tentativas de outros países de deter as matanças. Os líderes de Itália, Espanha ou Grécia precisam da ajuda de outros países e de entidades como o Banco Central Europeu ou o FMI para enfrentar sua crise. Contudo, embora nem Angela Merkel nem os órgãos internacionais tenham o poder de solucionar a crise, eles podem bloquear o jogo.Com o aquecimento global é a mesma coisa. As evidências científicas avassaladoras confirmam que a atividade humana está aquecendo o planeta, o que gera variações climáticas traumáticas. Se as emissões de certos gases não diminuírem, as consequências para a humanidade serão desastrosas.E, se para alguns é fácil ignorar a tragédia síria, por estar muito distante, ou a europeia, por lhes ser alheia, é impossível ignorar os efeitos do clima sobre todos nós e sobre as gerações que vão nos seguir.
Essas três crises são uma manifestação de uma tendência que as ultrapassa e que molda muitas outras esferas: o fim do poder. Isso não significa que o poder vá desaparecer ou que já não haja atores com imensa capacidade de impor sua vontade a outros. Significa que o poder vem ficando cada vez mais difícil de exercer e mais fácil de perder. E que quem tem poder hoje está mais limitado em sua aplicação do que eram seus predecessores.O presidente dos EUA (ou da China), o papa, o chefe do Pentágono ou os responsáveis por Banco Mundial, Goldman Sachs, “The New York Times” ou qualquer partido político hoje têm menos poder do que aqueles que os precederam.
O fim do poder é uma das principais tendências que vão definir o nosso tempo.”THE END OF POWER, Naím, Moisés, EDITORA Basic Books.
Fonte: Blog Fernando Nogueira da Costa

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